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  • Foto do escritorFinis Terrae Viagens

Viagem & Paladar #3 Tacacá

Atualizado: 2 de mar. de 2023


somos um pouco de tudo o que vivemos

Dito popular


Viajar e comer têm uma relação muito próxima. Precisamos comer todos os dias, mas quando estamos viajando a hora da refeição pode se transformar numa experiência especial. Sabores e ingredientes nos aproximam da cultura local e ampliam nosso repertório. Esta série de artigos Viagem & Paladar vai revelar algumas experiências pessoais com os pratos e os sabores locais que fui aprendendo a apreciar nas viagens que fiz por esse mundão.



O Tacacá é um prato inusitado e muito original. Típico do Pará e consumido em todo o norte do Brasil é um prato de origem indígena, feito com goma de mandioca, tucupi - um caldo extraído da mandioca - jambu e camarão seco . Brasileiríssimo e único !


Um prato da Amazônia, que requer diversas etapas de preparação prévia, para a obtenção do tucupi e da goma de mandioca. Após extraído da raiz da mandioca o tucupi deve fermentar antes de ser utilizado e a goma requer um processo que a separe da farinha. Embora estes ingredientes sejam encontrados prontos no mercado, para o preparo deste prato não basta misturar os ingredientes, se você não souber como. E a experiência de provar o tucupi certamente não será a mesma se você não estiver à beira de um rio na Amazônia.


O Tacacá é encontrado por toda a Amazônia e é surpreendente como o camarão seco, que coroa o prato, viaja milhares de quilômetros desde o litoral, podendo ser encontrado nos mercados de Belém a Tabatinga. Afinal, Tacacá sem camarão seco não é Tacacá.



O jambú é outro ingrediente interessante: apesar de bem cozido ele amortece a boca, causando uma leve sensação de formigamento na língua e acaba completando o esse exótico conjunto.

O prato é servido bem quente em cuias típicas da Amazônia e o caldo deve ser sorvido aos poucos, com os pedaços de camarão e jambú. Desse modo, o prato é uma típica comida de rua e pode ser encontrado em quiosques e carrinhos de mão. É um prato que nem sempre se aprecia na primeira vez. No entanto, para quem gosta, se torna uma iguaria sem paralelo. Não conheço sabor tão exótico nem tão marcante como o Tacacá.


Mas, como é que se encara um prato bem quente no intenso calor da Amazônia ?!!

O segredo é fazer como os locais, o Tacacá é apreciado ao final da tarde, ao sair do trabalho, quando a temperatura começa a cair um pouco. O caldo quente provoca uma primeira sensação de mais calor, mas ao final, o seu corpo experimenta uma sensação de frescor. É a velha receita da vovó: combata o calor com calor. Funciona !


Experimentei o Tacacá - e virei fã - à beira do Rio Tapajós, em uma viagem de trabalho ao Parque Nacional da Amazônia, em Itaituba, no Pará. Ao final da tarde, diversos carrinhos de comida típica estacionavam numa praça à beira do rio, e as mulheres traziam de casa suas preparações. O jambú fumegava no tucupi, enquanto a goma e o camarão aguardavam em seus respectivos recipientes. Os ingredientes vão sendo adicionados segundo uma ordem rigorosa: primeiro o camarão seco, depois o jambú, e por fim o caldo fumegante. A cuia vem quase transbordando, amparada pela cestinha de palha que evita que você queime os dedos. Um palito longo, daqueles usados para assar espetos na brasa, é acrescentado para ajudar a comer o camarão e o jambú.

A iguaria era degustada nos bancos da praça ao pôr-do-sol. Uma delícia !


Como haviam muitos migrantes nordestinos na região, os mesmos carrinhos de Tacacá também serviam um substancioso Mungunzá. Mas esse é um prato que fica para outro post.

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